sexta-feira, 25 de julho de 2003

Capital da Cultura - esclarecimentos

2003-07-23
[Luís Tarroso Gomes]
Diário do Minho

Capital da Cultura 

esclarecimentos

A respeito da reportagem que o DM publicou sobre um debate promovido pelo Bloco de Esquerda à volta de Braga capital da cultura, recebemos de Luís Tarroso Gomes o esclarecimento que a seguir reproduzimos: 

Com o título de “Capital da Cultura Só Com 100 Milhões” foi publicada na edição de domingo deste jornal a reportagem sobre o debate “A Cidade e a Cultura” para o qual eu fui convidado como membro do Projecto BragaTempo. Segundo se percebe ao ler o artigo, a frase que deu origem ao título teria sido por mim proferida. Ou seja, eu teria afirmado que para haver capital da cultura em Braga seria necessário 100 milhões de euros. 

Se o tivesse dito seria um disparate pois não se fez ainda qualquer estudo dos custos de uma capital da cultura nacional ou europeia na nossa cidade (para quando esses estudos, bem como os estudos de público(s)?) Com efeito, no debate afirmei que qualquer cidade que disponha de 10 ou de 100 milhões de contos (e não euros) poderá ser, respectivamente, capital nacional ou europeia da cultura (o valor de 100 milhões de contos tinha sido apresentado no próprio debate pela Dr.ª Manuela Melo como o custo total do Porto 2001). 

No caso de Braga, se a Câmara Municipal investir uma verba avultada na cultura, a nossa cidade será seguramente a capital. Todavia, se o dinheiro pode comprar quantidade, dificilmente dará uma visão alargada, estratégica e a longo prazo aos actuais dirigentes da cidade. E sem objectivos claros, sem uma política bem definida qualquer capital da cultura não passará de um somatório de eventos. Aliás, quando no debate referido a Dr.ª Manuela Melo (antiga vereadora da cultura da Câmara Municipal do Porto) enunciou os objectivos que em 1996 foram definidos para o Porto 2001 rapidamente se percebeu como o projecto de Braga não passa de uma ideia muito vaga e incipiente. 

Por outro lado, o exemplo que referi sobre o fotógrafo Pedro Guimarães (e não Rui) servia, não para demonstrar a falta de espaços culturais (de que também falei), mas apenas para ilustrar a forma como são tratados os artistas bracarenses na sua cidade natal, mesmo quando são premiados lá fora. Quem convida um fotógrafo ou outro artista de qualquer área para expor deverá ter a educação e o bom senso de lhe oferecer condições mínimas. E se se mantiver este sistemático desprezo pelos artistas bracarenses é natural que estes deixem de apostar na sua cidade. E não nos podemos esquecer que se Braga quer ser capital da cultura terá de apostar na produção própria. Senão tanto faz que a capital seja em Braga, em Guimarães ou em Barcelos.

O sucesso de uma Capital da Cultura em Braga passará por separar claramente e desde o início a Cultura da Política e dos políticos. Passará por nomear, se a ideia é mesmo para ir avante, uma pessoa isenta, capaz e com uma visão alargada de Cultura para presidir ao projecto. Essa independência é precisamente uma das razões do sucesso da Casa das Artes em Famalicão.

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