segunda-feira, 21 de julho de 2003

Braga Capital da Cultura só se houver 100 milhões…

2003-07-20
[José Carlos Lima]
Diário do Minho

Debate do Bloco 
com poucos participantes na Junta da Sé
Braga Capital da Cultura 
só se houver 
100 milhões…

Enquanto cerca de mil e quinhentas pessoas assistiam de graça à ópera “Tosca” de Giacone de Puchini, no Rossio da Sé, a sede da Junta de Freguesia acolheu na noite de anteontem escassas dezenas de pessoas para debater o projecto de candidatura de Capital da Cultura apresentado pela Câmara Municipal. No final, a satisfação evidenciada pelos presentes no Rossio da Sé era inversamente proporcional à dos convidados e participantes na conferência do BE, que consideram irrealista uma capital da Cultura sem políticas de investimento sustentadas para esta área. No final, Luís Tarroso Gomes, do projecto “BragaTempo” resumiu o assunto: «Qualquer cidade poderá organizar uma capital da Cultura se fizer um investimento de 100 milhões de euros».

Se a cidade de Braga tiver tanto dinheiro para investir numa candidatura a Capital Nacional/Europeia da Cultura como está actualmente a dedicar para participar no Euro-2004, «será concerteza possível organizar uma série de eventos capaz de não desmerecer um programa que terá de ser anual», considera Tarroso Gomes (neto), que vê «com muita tristeza» os seus colegas serem premiados fora de Braga e não terem na cidade um espaço condigno para apresentarem os seus trabalhos fotográficos, como acontece com Rui Guimarães.

Este jovem, de apenas 26 anos, que nos últimos tempos tem dedicado parte do seus dias ao “BragaTempo”, nota contudo que a sua geração «já não está à espera dos poderes públicos, pois o que lhe interessa é fazer coisas».

Tarroso “passou depois pelas brasas” a falta de apoio aos criadores culturais — onde colocou o grupo “Mão Morta” como a única referência — ao cinema, ao vídeo, às artes plásticas e à música, o que «faz com que o roteiro de artistas da cidade se resuma a quem tem possibilidades financeiras».

Incisivo foi também Barreto Nunes que considerou como principal obstáculo a uma candidatura «a falta de credibilidade cultural da autarquia», razão porque explica a total ausência de participação no período de discussão pública.

Depois da «sonora gargalhada» da primeira reacção à proposta, o director da Biblioteca Pública diz que «não acredita, mas até gostaria que Braga fosse Capital da Cultura», apesar da ausência de oferta cultural municipal e da falta de qualquer estudo de públicos e expectativas para sustentar o projecto.

Também Eduardo Pires de Oliveira pediu a palavra para apontar «a destruição quotidiana da cidade» que quer ser Capital da Cultura, seguindo a máxima salazarista: «Povo quanto mais analfabeto fores mais feliz tu és».

Entre os convidados, a directora do Museu D. Diogo de Sousa, Isabel Silva, preferiu falar pela positiva apontando o grande contributo que os seis museus bracarenses, com os seus mais de 80 mil visitantes anuais, podem dar numa candidatura a Capital da Cultura.

É que tal como Bracara Augusta marcou profundamente o território do seu tempo também a cidade de hoje não pode dissociar-se do seu meio, pelo que «é importante valorizar o que se encontra disperso pela região» de desenvolvendo um política cultural que crie hábitos e eduque os públicos.

Um trabalho que «não pode ser feito sem a participação das associações locais e das forças vivas da cidade», conforme sustentou Manuel Melo.

2003-07-20
[Dalila Monteiro]
Correio do Minho

Braga sem meios 
para ser 
Capital da Cultura

O Bloco de Esquerda insiste na ideia de uma candidatura conjunta de Braga e Guimarães a Cidade Nacional da Cultura. Num debate realizado esta sexta-feira, concluiu-se que o projecto apresentado pela Câmara bracarense não tem condições para vencer.

Fortalecer a junção das cidades de Braga e Guimarães para sustentar uma candidatura a Capital Nacional da Cultura ganhadora. Em Braga, o debate promovido na sexta-feira à noite pelo Bloco de Esquerda (BE) não deixou margem para dúvidas: a maioria dos participantes destacou a sua incompreensão sobre porque é que ambas as cidades não estão juntas nesta corrida.

Sobre as capacidades desenvolvidas pela Cidade dos Arcebispos para o reforço do projecto recaem as dúvidas sobre a recuperação do Teatro Circo, a mais carismática sala de espectáculos bracarense cujas obras "estão sempre atrasadas".

"Não dispomos de estudos científicos que permitam avaliar qual o impacto dos eventos culturais na criação de novos públicos". A Directora do Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa, Isabel Silva, defendeu o desenvolvimento de uma política cultural que "transcenda a cidade" para que a cidade possa ser palco de um evento do cariz de uma Capital Nacional da Cultura.

A afirmação entroncou no desfiar de argumentos explanados no debate promovido pelo BE, na sede da Junta de Freguesia da Sé.

Posição unânime entre os intervenientes bracaren- ses, uma candidatura da cidade a Capital Nacional da Cultura aponta sinais de incapacidade cultural e de equipamentos existentes no município e que seriam fundamentais para apoiar o evento.

Mas "uma outra cidade ainda é possível" acredita Henrique Barreto Nunes, director da Biblioteca Pública de Braga, apesar de incrédulo face à argumentação apresentada no documento de candidatura que a Câmara Municipal de Braga pretende que seja aprovada.

"Uma linguagem digna dos conselhos culturais do Santos da Cunha", referiu Barreto Nunes.

“falta credibilidade”

Na opinião do director da Biblioteca Pública de Braga, a candidatura de Braga – Capital Nacional da Cultura "não fez a leitura mais óbvia, falta credibilidade, não sensibiliza, falta a ideia de cultura, é casuística, sem estratégia, e não atrai para essa proposta os valores artísticos e intelectuais da cidade. Por isso, as pessoas marimbaram-se para a proposta", acrescentou.

Ilustrando com o exem- plo apresentado por Manuela Melo, da “Porto – 2001”, Henrique Barreto Nunes acusou ainda a ausência de meios e de públicos que, desde logo, impedem respostas a "quem se dirige" e a "como se concretiza" uma Capital Europeia da Cultura – no caso tripeiro.

A valorização dos criadores, a fidelização dos públicos, uma cultura inserida no quotidiano da população são factores que o responsável da Biblioteca Pública de Braga enalteceu como fundamentais para "a grande aposta que poderá ser uma Capital Nacional da Cultura".
Um sentido que "percebe-se quando quando se pega na candidatura" bracarense, reforçou Luís Tarroso, do Projecto BragaTempo.

"Mesmo que entregue 10 ou 100 mil euros à Câmara Municipal de Bragafaltará sempre estratégia cultural", criticou este jovem.

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