domingo, 31 de agosto de 2003

Oferta Cultural Incipiente e Sem Novidades

2003-08-31
[ISABEL FREIRE]
Público

Oferta Cultural Incipiente
e
Sem Novidades

Passado o periodo de férias, a próxima temporada cultural está já agendada mas parece não ter grandes novidades ou emoções para oferecer ao público minhoto. À parte alguns concertos de relevo e uma ou outra estreia teatral, o leque de opções não é muito variado, e a autarquias dizem mesmo que preferem apostar na formação de novos públicos orientando grande parte das suas actividades para a população escolar.
"É extremamente compensador quando vemos um filho a explicar ao pai o significado de uma peça de uma exposição de arte, porque um dos nossos colaboradores já o esclareceu, na sua escola" - congratula-se o director da Casa das Artes de Arcos de Valdevez, Nuno Soares. É no sentido de "sensibilizar as crianças" para que "as áreas culturais não sejam estéreis e vagas" na sua cabeça, que esta estrutura cultural vai desenvolver acções de formação nas próprias escolas, explica Soares.
É uma iniciativa que será retomada agora em Setembro e que encontra exemplos paralelos noutras cidades, como é o caso de Famalicão. "As crianças são bons espectadores. É mais fácil captar um miúdo do que um adulto para um espectáculo", considera o programador da Casa das Artes de Famalicão. Paulo Brandão promete que a cultura famalicense irá ser retomada "em força", com um concerto do brasileiro Zeca Baleiro e uma peça de teatro de Jacinto Lucas Pires. Mas a aposta desta instituição será sobretudo na produção e co-produção da responsabilidade da casa. "Há um esforço para envolver o nome da casa das artes no espectáculo, o que nos permite uma melhor escolha, tomando uma parte activa no projecto cultural", augura Paulo Brandão.
A aposta na "prata da casa" é uma tendência que se verifica também em Guimarães, nomeadamente no Teatro Oficina. "A nossa próxima peça ['Uma coisa simples'] é construída a partir de nada, pensada e executada apenas com os recursos da Oficina", explica o administrador desta cooperativa cultural, José Bastos.
A preocupação em "não sobrepor" as iniciativas camarárias às dos outros agentes culturais vimaranenses, como a Oficina, é uma preocupação afirmada pela vereadora da Cultura de Guimarães, Francisca Abreu. "Sempre com critérios de qualidade e rigor, não queremos enveredar por facilitismos de encher estádios nem trazer propostas feitas pelos outros. Queremos colmatar lacunas e investir na área da formação."

União de esforços

A área da formação é, precisamente, uma componente importante na oferta cultural daquela cidade para o próximo mês. Formação musical, profissional ou destinada às crianças, que Francisca Abreu alega ter um "impacto mais duradouro". Para além disso, sublinha que quase todas os eventos da câmara são realizados em parceria com outras entidades culturais, o que "acrescenta uma mais-valia ao projecto cultural, pois traz outras perspectivas e interesses."
Uma opinião partilhada pelo director da companhia Teatro do Noroeste, José Martins. O artista defende uma cooperação a um nível internacional, já que, "se os portugueses se quiserem afirmar na Europa, terão que o fazer com o restante teatro da Península Ibérica". O "plano estratégico" daquela companhia de Viana do Castelo passará, pois, pela continuação do intercâmbio com o teatro do país vizinho. Este é um plano que pretendem aplicar já no seu próximo trabalho, numa parceria com o encenador espanhol Guillerme Heras.
Para José Martins, a actividade cultural em Viana do Castelo está ainda numa fase incipiente: "Anda-se a esboçar uma tentativa do que se pode chamar uma vida cultural normalizada, na qual o facto cultural faz parte da vida, com a mesma regularidade com que alguém usa os transportes públicos ou os serviços de saúde".
A aposta da autarquia da foz do Lima vai nesse mesmo sentido, ao pretender criar "uma rotina de cultura com uma oferta diária e diversificada", alega a vereadora da Cultura, Flora Silva. Setembro "ainda será um mês de transição com um misto de actividades ao ar livre e de projectos em espaços formais", por isso, os vianenses poderão contar com um cardápio essencialmente virado para o folclore e astradições. A "descentralização da cultura", tal como é descrita por Flora Silva, vai ao encontro das freguesias, deixando de se limitar à "cultura urbana" e contribuindo para a "mobilização de agentes culturais" privados.
Para a homóloga bracarense, Ilda Carneiro, a relação entre autarquia e os agentes culturais é óptima: "Temos apoiado todos os projectos que nos são trazidos". Segundo a vereadora, a oferta da cidade dos arcebispos visa ser "eclética", procurando "dar a conhecer espectáculos de índole considerada elitista a um novo público mais amplo", usando "novas fórmulas" de apresentação, para colmatar a falta de espaços existentes (ver caixa).
O proprietário do bar "Deslize", situado na zona da Sé, reconhece os esforços da edilidade em relação à dinamização artística. "Nos últimos anos, perceberam que a cultura é muito importante", salientou José Pinto. Apesar disso, o empresário lamenta o facto de "esses esforços não obedecerem a um desenvolvimento estratégico", agindo "consoante o momento". Peças teatrais ou concertos de música jazz são eventos que poderão constar na agenda futura deste bar, mas só se o projecto tiver continuação. Neste momento o "Deslize" espera uma decisão do tribunal, que pode ditar o seu encerramento.
"O diálogo entre a câmara, a Universidade do Minho e as outras entidades culturais podia ser maior", afirma, por outro lado, o director da Biblioteca Pública de Braga, Henrique Barreto Nunes. "A cidade não tem aproveitado a massa cinzenta da universidade da forma mais rentável", alega, acrescentando que "para a terceira cidade do país e com uma população jovem tão numerosa", a oferta cultural "não é tão interessante e diversificada" como seria esperado.

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Intervalo em Agosto

Durante o mês passado, a maior parte dos agentes culturais minhotos esteve de "férias", deixando as actividades urbanas reduzidas, na sua maioria, a manifestações de origem popular ou animações de rua.
A Biblioteca Pública de Braga manteve apenas a exposição - "Minho Oitocentista", e também a actividade das casas das artes de Famalicão e de Arcos de Valdevez ficou reduzida a uma única exposição. Paulo Brandão, programador da instituição famalicense, afirma que durante o mês de férias tiveram "muita gente nos corredores a perguntar se havia alguma coisa lá" e, por isso, para o próximo Verão, estão a pensar em manter "uma série de ateliers para as pessoas que não vão de férias".
"Agosto é o mês de intervalo entre temporadas teatrais", explicou o director da CTB, Rui Madeira. Um mês passado, pelos actores da Companhia de Teatro de Braga e do Teatro do Noroeste, de Viana de Castelo, em descanso ou em digressão pelo país.
Diferente é a perspectiva da vereadora da Culturada Câmara de Braga, Ilda Carneiro, que considera que durante o mês de Agosto a animação bracarense é "muito diversificada", conseguindo atingir "elevados níveis de assistência". Como é Verão, aquilo que se procura oferecer às pessoas é uma "animação mais leve, de lazer, que as deixe satisfeitas", argumenta.
António Durães, um dos elementos fundadores do "sindicato de poesia", alega que se verifica na cidade uma "falta de iniciativa durante o ano todo", assistindo-se por parte da autarquia a "uma série de discursos que se anulam." Embora os "trabalhadores" do "sindicato" estejam de folga, fica a promessa de voltarem em Setembro com a reposição da última actuação e uma proposta "nova e arrojada".
Mas as férias não chegaram a todos. Em Guimarães, o cine-clube prosseguiu as suas sessões, com cinema ao ar livre, no centro histórico, três dias por semana.

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O problema é da falta de espaços?

A falta de espaços em Braga é a grande condicionante, segundo Ilda Carneiro, para a realização de espectáculos de dimensão nacional. "Com o Teatro Circo em obras, neste momento, não temos espaços para grandes bailados ou espectáculos de grandes nomes". A candidatura a Capital Nacional da Cultura, apresentada pela Câmara Municipal, refere que a cidade "dispõe de uma rede de equipamentos culturais diversificada que vai desde grandes auditórios até teatros de bolso", e o director da Companhia de Teatro de Braga (CTB), Rui Madeira, afirma que o problema não é a falta de espaços mas antes a "falta de infraestruturas" e a "falta de fazer coisas". "Existe um preconceito de que para fazer alguma coisa são precisas todas as condições", alega o actor e encenador. Mesmo instalado num espaço provisório - o Espaço Alternativo PT - sem as condições ideais, Rui Madeira recusa-se a desempenhar o "papel de desgraçadinho": "Conhecemos o espaço, sabemos as suas limitações e até onde podemos ir com ele." É nesta linha de pensamento que afirma que mesmo com o Teatro Circo restaurado, a CTB não tem a intenção de se mudar para novas instalações.

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Principais espectáculos para Setembro

Braga
- "A vida de Komikase" , pela Companhia de Teatro de Braga
- "A luz irrompe em lugares estranhos" - recital de poesia promovido pelo Sindicato de Poesia
- Bar Deslize - "Encontrões da fotografia" e espectáculos de café-teatro (às quintas e sextas)
- Concerto com Rodrigo Leão ("Pasión") - Parque de Exposições, dia 10

Guimarães
- VII Cursos Internacionais de Música (dias 1 a 6)
- "Estórias aos solavancos" - Visita-guiada encenada ao centro histórico (dias 6,13, 20 e 27)
- Expotunning - Pavilhão Multiusos de Guimarães (dias 19 a 21)
ografias premiadas - biblioteca Raúl Brandão

Famalicão
- Concerto Zeca Baleiro, na Feira de Artesanato (dia 12)
-Teatro: "Os dias de hoje", com texto de Jacinto Lucas Pires - Casa das Artes (dias 19 e 20)
- Dança/Teatro Casio Tone e atelier pela Companhia Real Pelágio - Casa das Artes (dias 25 a 28)
- Música Popular Brasileira - "Tributo a Elis Regina"- Casa das Artes (dia 26)

Viana do Castelo
- Ciclo de Música Sacra Viana 2003
- VII Festival Internacional de Folclore Alto Minho (dias 1 a 7)
- Concerto "Pasión", por Rodrigo Leão (dia 12)
- Espectáculo de Percussões "Tim-Tam-Tum" (dia 13)
- Espectáculo de teatro "Avarias", pelo Teatro Mínimo de Lisboa (dias 19 e 20)
- Espectáculo de marionetas "Dança Comigo", pelo grupo Marionetas, Actores e Objectos de Viana do Castelo (dias 26 e 27 )

sexta-feira, 22 de agosto de 2003

Queens of the Stone Age

« [...] algo me diz que o rock nunca vai morrer. Nos próximos dez anos, muitas coisas hão-de nascer e morrer; entretanto, o rock vai desaparecer por algum tempo, mas depois há-de vir alguém com roupas estranhas - umas jardineiras, provavelmente - baralhar tudo outra vez. Foi sempre assim que nasceram as estrelas rock. Pela nossa parte, quando estamos a ensaiar nunca paramos para dizer: "Alto aí, estamos a ressuscitar o rock!". Nunca senti que estivesse a salvar o mundo.

[...] Somos apenas uma grande banda, ponto final. E, sinceramente, cheguei a pensar que o que fazíamos era demasiado bom para vender. A maior parte das pessoas detesta as bandas de que eu mais gosto: são sempre demasiado inteligentes, demasiado diferentes, demasiado qualquer coisa para vingar no "mainstream". Por isso, o que está a acontecer agora ao rock é bom, é mesmo muito bom. Ver bandas como os White Stripes no topo das tabelas faz-me muito bem ao coração. Há cinco anos atrás isto era impossível, porque o puto comum andava a comprar álbuns dos Staind.»

Braga e Praga

2003-08-22
[JOÃO BÉNARD DA COSTA]
Público

Braga
e
Praga

...Por isso, renunciando a esses temas candentes (há outras razões, mas um dia chegará o tempo de explicá-las), reparei, nas efemérides do "Diário de Notícias", que passaram ontem 35 anos sobre a entrada dos tanques russos em Praga.
Tenho várias memórias - fundas memórias - ligadas a esses dias de pavor. Deixo-as para outra ocasião, recordando apenas uma anedota que se contava quando, um mês depois (em Setembro passarão outros 35 anos) Salazar caiu da cadeira abaixo. Dizia-se que a queda fora provocada por um erro de compreensão do velho senhor. Quando lhe disseram "os russos entraram em Praga", Salazar terá percebido "os russos entraram em Braga". Compreensivelmente, estatelou-se no chão.

3 - Praga e Braga. Antes de 68, eu pensava que as cidades se equivaliam, isto é, que viver na Checoslováquia "socialista" ou no Portugal "fascista" (espero que as aspas, nestes casos, jamais causem problemas jornalísticos) era mais ou menos a mesma coisa. Viver sem liberdade (ao menos, certas liberdades), viver sem respeito pelos direitos do homem (ao menos, certos direitos), viver com escolhas limitadíssimas. Às vezes, lá para as minhas bandas, havia grande discussão sobre o mal menor. Os mais "direitistas" lembravam que em Portugal não nos tiravam o passaporte e podíamos viajar (a minoria que tinha passaportes, dinheiro para viajar e que não estava sob vigilância mais controlada). Os mais "esquerdistas" argumentavam que as tropelias de Leste visavam, pelo menos, um nobre fim e que, para lá do muro, todos tinham pão, cama, mesa e roupa lavada (mesmo que tudo isso fosse assaz rudimentar).
Em 68, percebi que por mais que pensasse de Braga o que o Raposão de "A Relíquia" pensava (quando o amigo lhe perguntou por Jerusalém, ele respondeu: "Pior do que Braga! Pior do que Braga!") não havia qualquer comparação entre viver na cidade dos arcebispos e de Santos Cunha e viver na cidade donde Dubcek fora varrido. Em Braga, vivia-se numa cidade ultraconservadora, sob um regime autoritário que podia ser duro (às vezes duríssimo) mas onde era possível vida privada, onde era possível a conspirata de café e onde era possível estar razoavelmente informado do que se passava no resto do mundo, mesmo que os jornais, a rádio ou a televisão da paróquia censurassem as novas. Não me esqueço - nem pretendo que ninguém esqueça - que havia militantes políticos (sobretudo se eram membros ou simpatizantes do clandestino partido comunista) que não tinham nem vida privada, nem direitos alguns. Mas, com a grande maioria, não se passava nada disso, como posso testemunhar, eu que jamais pretendi passados heróicos, mas assumo uma história de que não me envergonho e que esteve longe de ser neutra.
É verdade que tremia um pouco, à chegada do estrangeiro, antes de me carimbarem o passaporte, mas também é verdade que nunca me impediram viagem nenhuma. É verdade que me foi vedada a carreira docente e qualquer emprego público, mas também o é que nunca estive desempregado e que o dinheiro que ganhava me dava para o pão e para a manteiga com que o barrar (por que é que hoje me deu para o Eça?). É verdade que passei tratos de polé com a censura e que algumas vezes fui chamado à PIDE, mas sempre disse o que pensava em lugares públicos e nunca fui preso. Escutas telefónicas? Quem me faz a pergunta não é meu amigo, porque sobre esse assunto estão mais conversados os meus auditores de agora (polícias ou juízes da impoluta democracia) do que os auscultadores de antigamente.

4 - Em 1975 (precisamente, no Verão de 1975) fui a Praga, pela primeira vez. Logo à chegada à fronteira (vinha da Áustria, de carro alugado) a revisão do automóvel e das nossas bagagens (da minha mulher e minha) durou bem mais uma hora do que durava em Portugal. Nunca mais me esquecerei (primeiro símbolo) que me apreenderam o "Nouvel Observateur", exactamente como sempre a PIDE mo apreendeu, antes de 74.
Cheguei a Praga, à noitinha. Entrámos num restaurante razoavelmente cheio. Mas, segundo o hábito germânico de encher mesas enquanto houvesse lugar nelas (mesmo quando os comensais se desconhecem), sentaram-nos com um jovem casal nativo. A certa altura, naturalmente curiosos, ouvindo a língua que falávamos, perguntaram-nos donde vínhamos. Melhor dito: perguntou-nos ela, a única que arranhava um bocadinho de inglês. Ouvindo Portugal - era 1975 - choveram as perguntas, apesar das dificuldades de comunicação. A páginas tantas, o rapaz disse qualquer coisa ao ouvido da rapariga, que corou muito e lhe deu repetidas negas. Julgando que ele nos queria pôr qualquer questão mais íntima, insistimos com a namorada pela tradução integral. Custou mas arrecadou. Muito baixinho, olhando para todos os lados, ela disse-nos: "My friend wants to know if you like russians." A surpresa foi tamanha que desatámos a rir. Não foi preciso mais. O amigo levantou-se como uma seta, encomendando ao criado uma garrafa de bom vinho branco, depois uma segunda, e esgotámo-las em saúdes cúmplices. A seguir, pagou-nos o jantar. "My friend" passou a ser o vocativo deles quando se nos dirigiam.
Por mais que pense no mais anti-yankee dos portugueses, no mais anti-imperialista dos comunistas portugueses, não o consigo imaginar a confraternizar com estrangeiros só porque estes tinham achado graça a uma pergunta sobre o amor deles aos americanos.
Foi apenas um prelúdio. Conheci depois um crítico de arte - que vivia de traduções sob pseudónimo - e que saía de casa, à noite, para, com amigos, ouvir numa cave longínqua "The Voice of America", como num filme antinazi. Quando lhe objectei que o programa era péssimo (era mesmo) respondeu-me que bem o sabia, mas que nada pagava o gozo de ouvir "heresias". Nunca, na minha vida, vivi o medo colectivo como em Praga, nesses dias de 1975. A polícia metia medo ao susto e os soldados russos não ajudavam à boémia. Foi então que percebi a diferença entre uma sociedade repressiva e uma sociedade totalitária. O totalitarismo, nenhum de nós, portugueses, o conheceu, nem nas horas mais duras do salazarismo.
Salazar acabou. O comunismo acabou. Praga, que viveu o nazismo e depois o comunismo, não os terá esquecido, mas aprendeu que não se brinca com fantasmas desses. Braga, que não viveu nada disso (apesar das militaradas de Gomes da Costa e das bombas do cónego Melo), devia-o aprender também. Com os mortos não se brinca. Pelo menos, assim mo ensinaram.

quinta-feira, 21 de agosto de 2003

Prohibitions Competition™

Which Institution "No"s the Most?

ROCK NA QUINTA 2003

Sabado 23 de Agosto de 2003
1ª edição do festival da nova música bracarense.

Com a participação das bandas bracarenses
Jack in the box;
Freequency;
Sterling Moving Company;
Device e
Nevernamed.
Conta também com a presença dos
PRIME
como banda convidada.
 
O objectivo deste festival é a divulgação e promoção da nova música que se faz no distrito de Braga.
 
Este evento terá lugar na Quinta do Olival em Caldelas.
As portas serão abertas às 17:00 para que os participantes possam disfrutar do excelente espaço ao ar livre da Quinta do Olival. Os concertos terão início às 19:00.
No local existe piscina e haverá "COMES E BEBES", muita e boa música para ver e ouvir!
Os bilhetes têm um preço simbólico de 5 euros.
Este evento é organizado pela Associação de Estudantes da Faculdade de Filosofia de Braga e conta com o apoio do Governo Civil do Distrito de Braga, Instituto Português da Juventude, Rádio Universitária do Minho, Rádio + FM, Rádio 93.5 e Antena 3.
 
APAREÇAM QUE VAI VALER A PENA!
 

quinta-feira, 14 de agosto de 2003

alguma coisa

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sexta-feira, 8 de agosto de 2003

Sinais de Fogo

2003-08-08
[MIGUEL SOUSA TAVARES]
Público

Sinais
de
fogo

Eis alguns sentimentos dispersos, sem nenhuma sistematização nem pretensão de ciência, proporcionados por esta terrível semana de fogo.

1 - Todos temos direito a férias, a mergulhar na água e no esquecimento um ano sem tréguas, como todos os outros. Queremos bom tempo, um sol que queima, uma água que envolve e limpa. Mas, como esquecer tudo, como desejar o sol e mergulhar na água sem preocupações, quando, atrás de nós, metade de Portugal arde em fogo de inferno e milhares de portugueses lutam sem tréguas para defender o que é seu, as suas vidas e a sua forma de vida?

2 - É impossível não ficar impressionado pelas imagens daquela gente. Os bombeiros, exaustos, dormindo em pleno alcatrão, junto aos carros, às primeiras luzes da manhã. Os soldados da GNR, mostrando o lado melhor da sua função, que é o do combate à solidão e ao isolamento das populações rurais, arriscando a sua segurança para resgatar ao fogo os que não querem abandonar as suas casas. As populações - jovens, adultos e sobretudo velhos - lutando com "caterpillars", mangueiras, enxadas, baldes e ramos, em defesa das suas casas, dos seus quintais, das suas árvores, dos seus animais. E também os autarcas, ao lado das populações, olhando as chamas e o céu, em desespero de um avião. Percebemos de repente que nem tudo está morto, num país que se diria tantas vezes letárgico. Há quem lute até ao fim, sem esperar que seja o Estado a vir salvar o que é seu. Catorze portugueses morreram até agora, neste combate heróico.

3 - Mas a ocasião é também propicia a demagogias. Um senhor já de idade, de balde na mão, defendia a sua casa das chamas que já tinham chegado ao quintal, enquanto desabafava para uma câmara de televisão que"gostaria de ver aqui esses intelectuais de meia-tigela". Mas os intelectuais de meia-tigela não poderiam ter resolvido o problema particular que as imagens mostravam: um quintal ao abandono, com o mato crescido e pilhas de madeira esquecidas no chão. Mais de metade dos 500.000 proprietários florestais do país têm os seus terrenos assim, ao abandono. E, quando ardem, a culpa é dos políticos ou dos intelectuais de meia-tigela.

4 - Arde aquilo que está abandonado. Arde o Portugal que desapareceu, o Portugal que foi desertificado pela reforma da PAC dos anos noventa e por sucessivas políticas de planeamento territorial que fizeram morrer aldeias e comunidades rurais e nascer Brandoas e subúrbios marginais. Ribeiro Teles disse-o há muitos anos: se matarem a agricultura e a pastorícia, matam Portugal. Mas ainda há quem faça a capa da revista do "Expresso", com o rótulo de "empresário ambientalista", porque, movendo influências políticas, fez uma urbanização na zona da Reserva Agrícola, junto à Ria Formosa, no Algarve. Há sempre uma excepção, um "projecto estruturante", um caso "de interesse público". É a política do "só mais um", que, um a um, vem mudando a paisagem e a estrutura física e social do país nas últimas décadas. Abre-se a excepção a montante a paga-se a factura a jusante.

5 - E arde o Portugal que quis confundir serra com floresta e floresta com pinheiros e eucaliptos. Nos anos cinquenta, quando Salazar mandou florestar o Marão, os pastores corriam de noite pela serra com tochas a arder e pegavam fogo a tudo: defendiam as pastagens dos seus rebanhos, o seu modo de vida. Hoje, já não há rebanhos nem pastores (que eram os melhores vigilantes contra os fogos), não há agricultura nas encostas e vales, não há cursos de água permanentes nem fontes, não há árvores folhosas, não há humidade nos solos, não há populações residentes nas serras (excepto os estrangeiros que compram aldeias inteiras desertas), não há vida na serra. Tudo foi secado pelos eucaliptos e pelos pinheiros, o "nosso petróleo verde", como dizia Mira Amaral. Outros, e em obediência a outros interesses, deitam fogo à serra ou ela própria arde por si, reunidas as condições ideais de combustão. Seria de esperar outra coisa?

6 - No meio das chamas, um senhor da Liga da Protecção da Natureza lembrou-se de propor que fosse cancelada ou adiada a próxima época de caça. Como se houvesse caça no eucaliptal ou no pinhal, onde não há coberto vegetal, não há sementeiras, não há comida e não há água! Já atravessei várias vezes a serra de Monchique e a serra de Ossa, inteiramente cobertas por eucaliptos, e nunca vi um coelho a correr nem ouvi cantar um pássaro. Pelo contrário, se o senhor se der ao trabalho de ir ver com atenção, estou certo que descobrirá que poucas são as reservas de caça bem mantidas que arderam. Primeiro, porque é diferente a estrutura vegetal, depois, porque são vigiadas, mantidas, limpas, são feitas sementeiras que cortam a continuidade do mato, estão abertos os caminhos e os corta-fogos e estão mantidos os pontos de água. Mas o país que nada percebe do assunto vai achar com certeza uma excelente ideia fazer os caçadores pagar pelos fogos (e, a propósito, este ano não há touros de Barrancos?)

7 - Diz o director da PJ que 30 por cento dos fogos desta semana tiveram mão criminosa. É um número razoável, fora das habituais especulações delirantes que costumam apontar para 90 por cento ou cem por cento. Pessoalmente, sempre desconfiei de explicação tão simples e desculpabilizante. É como as explicações que insistem em impingir-nos de que o excesso de velocidade é o responsável por todos os acidentes nas estradas: nunca é a má sinalização e a má condução, potenciada por um ensino incompetente, por uma avaliação corrupta e por um sistema de repressão que persegue a infracção e não o sinistro. O mesmo com os fogos: se são todos fogos postos, ninguém tem culpa e não há nada de radicalmente diferente a fazer, senão esperar que arda e esperar que se apague.

8 - Em todo o caso, fogo posto ou não, é difícil de entender por que não pode ele ser previsto e vigiado na origem, antes de tomar proporções incontroladas. Não é só obrigar os proprietários e o próprio Estado a manterem as suas propriedades florestais em condições. É também perguntarmo-nos porquê que, enquanto o país arde, se juntam todos os ex-chefes do Estado-Maior do Exército em conspiração contra o ministro da Defesa, mas nem um só se lembra de propor que os 20.000 efectivos do Exército sejam destacados todos os anos para o terreno, para fazerem vigilância, abrir caminhos, defender as populações e ajudar os bombeiros na retaguarda, em lugar de ficarem nos quartéis a servir almoços e "bicas" aos oficiais. Ou o Exército não tem por missão defender o território? Se serve para o Kosovo ou para o Iraque, não serve para Portugal? E porque temos nós de pedir ajuda aérea à NATO, à Itália, a Marrocos, quando temos vinte F-16, cada um deles custando o mesmo que dez aviões de combates a fogos, encostados porque não há pilotos? E os mais de duzentos milhões de contos que vão ser gastos em dois submarinos destinados a combater um inimigo invisível e um perigo inexistente, quando afinal o perigo é real e está cá dentro: é a poluição das costas, a pesca ilegal dos espanhóis, as lanchas dos contrabandistas de droga, os incêndios?

9 - Pois, não é a hora para pedir responsabilidades políticas. Nunca é a hora, quando será a hora? E, pensando bem, seria injusto exigir por junto a cabeça do manifestamente incompetente ministro da Administração Interna. Que mal fez ele que não fizesse outro qualquer que não tenha o beneplácito do Governo, dos sucessivos governos e das suas políticas instaladas? O primeiro-ministro não afirmou no mês passado que o nosso futuro, quase todo o nosso futuro, assenta no turismo e no turismo tal qual o temos? Para que serve então o interior do país, se não para plantar pinheiros e eucaliptos e vê-los arder, quando as coisas correm mal? Aliás, como notou Jorge Sampaio, a culpa dos incêndios é fundamentalmente do calor. Do calor, dos ventos, da ausência de humidade.
Da natureza, numa palavra. 
Raios partam a natureza!


Re Pensar

bartoon 0808 @ publico.pt
mais um

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quinta-feira, 7 de agosto de 2003

terça-feira, 5 de agosto de 2003

Épocas de fogos em três andamentos

bartoon @ publico.pt