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terça-feira, 16 de março de 2004

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segunda-feira, 15 de março de 2004

sexta-feira, 12 de março de 2004

originalidade

segunda-feira, 8 de março de 2004

A casa podia ser só uma cama e um 'home cinema'

"Uma casa maior? Não obrigada, esta é mínima e está sempre desarrumada, então se fosse maior não sei como estaria", confessa Carlos Lima Monteiro, 34 anos, orgulhoso proprietário de um T0 no Príncipe Real, bem no centro de Lisboa.

Jovem gestor, solteiro, "semi-descomprometido", simpático, divertido, "com um bocadinho de aversão a casamentos e afins", Carlos ficou felicíssimo quando encontrou uma casa à sua medida. Isto é, uma casa onde praticamente só cabe uma cama pois esta é no fundo, segundo afirma, a sua utilidade máxima. "A casa podia ser só uma cama e um 'home cinema' pois eu só lá durmo e vejo televisão", diz sem rodeios.

"Mas queriam o quê? Que eu depois de um dia de trabalho, chegasse a casa às onze da noite e me fosse pôr a fazer um cozido à portuguesa só para mim?", questiona de olhos muito abertos. "Quando chego a casa, quero é dormir e quando não estou a dormir a última coisa que quero, é estar metido em casa", confessa, despachado.

Para Carlos, a vida está tão longe de se resumir a uma casa que só saiu do aconchego do lar paterno por imposição. Lá foi ficando, vendo o tempo passar, "cama, roupa lavada, comidinha da mamã, uma maravilha", até que um dia acordou com uma voz que o chamava para a realidade. "Disseram que gostavam muito de mim mas que achavam que eu com trinta anos já estava em boa idade de comprar a minha casinha, aprender a fazer as minhas coisas e pronto, lá me tive que pôr a andar", conta sem grandes enredos. "Ao princípio fiquei um bocado chateado, não me estava a ver a comprar uma casa e a começar a passar os dias metido em lojas de decoração à procura de mobílias, por isso este apartamento foi mesmo um achado."

Um achado que se resume a 40 metros quadrados, quarto e sala conjunta, casa-de-banho, kitchenette e garagem, "tudo o que um homem precisa", sublinha. "Quanto mais coisas, mais trabalho dá. A palavra de ordem hoje em dia é simplificar, caso contrário damos em doidos e doidos já somos todos um pouco", remata com uma gargalhada.

quarta-feira, 3 de março de 2004

A Cabisbaixa

As cidades são lugares centrais. Diz-se delas que são centros urbanos. E diz-se dos centros urbanos que são o centro - de distritos, de regiões, de países. O sítio mais central das cidades é o centro. Todas as cidades com carácter se orgulham do seu centro e têm nele uma parte importante da alma com que alimentam os seus habitantes. Temos o costume de chamar ao centro Baixa e, antigamente, gostávamos de ir à Baixa ver montras com os miúdos pela mão direita, porque a esquerda levavam-na ocupada com o algodão doce, as pipocas, as castanhas. Era isso no tempo em que a Baixa estava em alta, no tempo em que era altamente ir à Baixa levar um banho de urbanidade e esquecer por um domingo a fealdade do subúrbio.

Mudam-se os tempos, mudam-se as cidades. E agora a Baixa está em baixo. Vem perdendo o seu brilho. Vão-se-lhe os dedos e ficam só os anéis: belos monumentos à míngua de olhos que os mirem, estátuas tristes dando o flanco desprotegido aos "grafitti" e às pombas, testemunhando o esvaziamento populacional, a ausência do torvelinho que fazia das baixas lugares densos, habitados, envolventes. Enfim, a Baixa está cabisbaixa.

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O coração das grandes cidades tem vindo, pois, a sofrer uma desvitalização. Um dos seus sinais mais visíveis é o enfraquecimento do controlo social informal - aquele que resulta das interacções quotidianas entre residentes e desconhecidos, da vigilância espontânea produzida pelas redes de vizinhança e pelos sentimentos de pertença do espaço. Sob a pressão destes factores ecológicos, as baixas, tendo o mesmo espaço que tinham dantes, têm contudo menos lugares. O lugar é um espaço de reconhecimentos, de interacções quentes, de pertenças e apropriações. Há lugares que, ocupando pouco espaço físico, têm um imenso espaço psicológico - e são estes que têm vindo a entrar em crise e, nalguns casos, a perder-se irremediavelmente. Quando a cidade identificada consigo própria através desta geografia dos lugares entra em crise, fica à mercê do estranho. O estranho é aquele que chega, o que vem de um algures que o torna enigmático e ilegível. E quando estamos fragilizados tendemos a lê-lo como indesejável e perigoso e não activamos os mecanismos para o seu acolhimento.

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A terciarização dos centros empurrou, como já vimos, a função residencial para as novas periferias, que não se limitam hoje já a ser simples subúrbios, complexificando o seu tecido social e o seu leque de actividades. Elas ganham importância à mesma velocidade que o centro a perde, obrigando a pensar a gestão política dos grandes aglomerados através de uma lógica diferente da das capelinhas das câmaras municipais. E os lugares antes densos da Baixa são agora, a partir do fim do dia, terras de ninguém, espaços ocos, entregues ao escoar lento da cidade nocturna, despovoada e à mercê de intrusos e inquietações. Seria importante fixar aqui gente e actividades. No Porto, por ex., vamos ainda a tempo de corrigir parcialmente o erro de retirar as escolas de ensino superior do centro; vamos ainda a tempo de considerar as funções cultural e lúdica como estratégicas para atrair "city users" - porque a desportiva, essa, já os atrai há muito tempo, levando o nome da cidade aos quatro cantos do mundo redondo; vamos ainda a tempo de promover programas de incentivo à fixação de casais jovens na Baixa, seguindo o exemplo de municípios do interior, como o de Murça; vamos ainda a tempo de requalificar ruas e quarteirões sem que essa operação signifique uma engenharia social que obrigue as camadas com menos poder de compra a debandar das casas onde estão há gerações.

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[LUÍS FERNANDES] qui 03 mar 2004

despenalização