domingo, 14 de setembro de 2003

O Novo Estádio Municipal de Braga

2003-09-14
[ FILIPE FONTES, arquitecto ]
público

O Novo
Estádio Municipal
de Braga

"Criar a forma com a essência do problema e os meios da nossa época - esta é a nossa tarefa"
Mies van der Rohe

De todos os estádios de futebol em construção no país, o novo estádio municipal de Braga, afigura-se aquele que mais apaixonadamente entusiasma os arquitectos em particular e os cidadãos em geral, sendo já, ainda não finalizado, considerado uma "obra arquitectónica" de referência do novo século...

Objecto de rasgados elogios mas também de acesa polémica, o novo estádio municipal de Braga constitui-se como um elemento notável na actual produção arquitectónica do país, afirmando-se pela sua qualidade conceptual, singular enquadramento paisagístico e arrojo construtivo.

Não pretendendo reflectir sobre a obra arquitectónica de uma forma aprofundada ou académica, nem tão pouco alimentar a polémica verificada, nomeadamente ao nível do investimento público e controlo orçamental, é intenção deste texto relacionar a nova construção com a cidade, o Minho e o país, tentando perceber como a mesma obra poderá conformar-se como uma "mais-valia" , enriquecendo o património arquitectónico, marcando o território, influenciando as pessoas, em conclusão, prestando um serviço à comunidade e, consequentemente, gerando mais qualidade de vida.

O novo estádio municipal de Braga é uma obra de evidências, interesses e expectativas:

Evidências na confirmação do seu autor, arquitecto Eduardo Souto Moura, como arquitecto de mérito quer na procura conceptual da melhor solução para a encomenda, quer no domínio da escala da intervenção, quer na assunção do projecto e seus resultados.

Evidências no entendimento da arquitectura como actividade multidisciplinar que necessita, recorre e incorpora muitos outros saberes e técnicas (geologia, engenharias, hidráulica, segurança, paisagismo,...), e "cuja prática corresponde a um serviço profissional que é simultaneamente económico e cultural"(2).

Evidências na descoberta do carácter urbano da intervenção não só pelos seus elementos urbanos que encerra (nomeadamente as suas duas grandes praças que ladeiam, a cotas diferentes, o estádio) como também pela sua matriz estruturadora de todo o espaço envolvente que irá emergir urbanística e construtivamente.

Evidências no arrojo e singularidade que a obra encerra, percepcionando o futebol como um espectáculo sujeito a regras de conforto físico e visual.

Evidências na preocupação paisagística, negando a imposição do construído na paisagem, mas dispondo a massa edificada a participar na composição e qualificação dessa mesma paisagem.

Interesses pelas suas características inovadoras e qualitativas, ao nível da paisagem, da arquitectura e da construção, afigurando-se capaz de atrair inúmeros visitantes, de interesses diferenciados, com repercussões directas para o turismo da cidade e região.

Interesses pelo seu ambiente único e singular que o fará "sedutor" de muitos eventos, o que, aliado ao parágrafo anterior, gerará fluxos de pessoas e bens, beneficiando a economia da cidade e da região.

Interesses pelo seu carácter excepcional e singular, motivando investigação, estudo, visitas e gerando o património de amanhã (...enriquecendo, assim, as vertentes patrimonial e cultural da cidade e região).

Interesses pela forma como poderá disciplinar e induzir qualidade no planeamento urbano de uma nova área urbana de Braga, beneficiando, assim, o urbanismo da cidade e região.

Expectativas sobre a sua funcionalidade em função das actividades previstas e do "ambiente natural que a rodeia" (...por exemplo, os ventos,...)

Expectativas sobre o equilíbrio racional entre o arrojo e a singularidade da obra com o seu custo, não só de construção como também de manutenção.

Expectativas sobre a confirmação da sua capacidade de atracção de eventos e actividades, que não somente desafios de futebol, potenciando uma utilização diversificada e "usufruível" por todos que não somente espectadores de desafios de futebol.

Expectativas sobre a sua capacidade de influenciar a prática arquitectónica na zona envolvente ao estádio e, numa perspectiva mais ampla, na cidade e região.

Este parece ser o grande desafio que o novo estádio municipal de Braga encerra como "obra arquitectónica": confirmar as expectativas, satisfazer e rentabilizar os interesses, superar as expectativas (transformando-as em razões positivos da obra em causa), conjugando e maximizando o sítio, o programa, a forma, a construção e a apropriação num processo gerador de património construído, cultural e serviço público à comunidade.

Se assim for, o que se afigura por todos desejado e a todos interessar, o novo estádio municipal de Braga será uma bela forma de celebrar o ano de 2003 como o ano nacional da arquitectura, expondo e usufruindo o cada vez mais inalienável "direito à arquitectura" que a todos assiste!

(2) Rui Barreiros Duarte

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